Com o preço do trigo cada vez mais alto, a indústria observa a elevação nos custos de produção da farinha, sem poder realizar os repasses necessários nas tabelas para manter as margens em níveis saudáveis de comercialização
As vendas de farinha de trigo continuam lentas e isso tem dificultado o repasse de preços nos derivados por parte dos moinhos. Os negócios continuam sendo feitos com a comercialização de poucos volumes, diante da menor demanda pelos derivados.
Por outro lado, o preço do trigo, frete, embalagens e outros itens que englobam a formação de preço da farinha de trigo, subiram significativamente desde o começo do ano, o que torna a margem dos moinhos ainda mais enxuta neste novo cenário.
De acordo com os agentes entrevistados pela AF News, além de todos os problemas enfrentados pelo setor, ainda existem alguns concorrentes, que estão queimando farinha para se mostrarem ativos no mercado. Porém, com os negócios cada vez mais difíceis, os vendedores que atuam com maior seriedade, dizem não haver mais margem para se poder trabalhar.
O que vale ressaltar nestes casos, é que muitas vezes a redução de preços não é atrativa neste período em que os compradores estão bem estocados, pois mesmo com a farinha sendo vendida abaixo da média por alguns moinhos, quem está com estoques bem abastecidos, não vai ter motivo de estocar mais produto sem saída. Além do mais, compradores que migram de moinhos por causa de preço, de tempos em tempos farão nova mudança, não mantendo nenhuma fidelidade com os vendedores.
Alguns representantes de moinhos, em sua maioria, ainda continuam adotando a medida de reduzir a moagem diante deste cenário de fraca demanda, para que não seja necessário diminuir os preços das tabelas, mas sim, buscar ajustes graduais, para que os compradores possam ir absorvendo estes aumentos na matéria-prima.
Um gerente de moinho de médio porte do Rio Grande do Sul relatou que “se as vendas caíram 30%, nossa moagem também reduziu 30%. Mesmo com um faturamento mais baixo, não temos motivo para moer farinha e queimar os preços sendo que adiante teremos que pagar caro para adquirir mais trigo”.
O que torna ainda mais complexo esse panorama observado no setor dos derivados de trigo, é a restrição da venda da matéria-prima por parte do produtor. “Não há negociação com os produtores, eles literalmente continuam sentados em cima do saco e batem o pé sobre a venda do grão, querendo sempre uma pedida maior. Por aqui o trigo ainda está entrando na faixa de R$ 1600/1650 por tonelada (CIF), mas tem um pessoal que já está pagando em torno de R$ 1700/ton (CIF). Não sabemos onde isso vai chegar”, disse um proprietário de um moinho do Oeste do Paraná.
O fato é que sem a reação do mercado, o repasse no preço da farinha de trigo continua inviável, porque mesmo com uma tabela inalterada, as vendas não estão chegando.
Infelizmente o cenário não é dos melhores e para parte do setor, uma melhoria na demanda só será observada a partir de maio ou junho, quando o governo liberar as novas parcelas do “auxílio-emergencial”, benefício que deve injetar mais dinheiro na economia brasileira, que atravessa uma grande crise nesta pandemia do Coronavírus.
FUNDAMENTOS DE FORMAÇÃO DE PREÇOS
– Dólar em QUEDA na semana de 12 a 19/04 fechando com -3,00% passando de R$ 5,7224/US$ para R$ 5,5505/US$.
– Farelo de Trigo: demanda sinaliza melhora e moinhos começam a repassar aumento nas tabelas. Próximo balanço AF News de Farelo de Trigo será divulgado no dia 22/04 (quinta-feira).
– No mercado de lotes no trigo do Estado do Paraná estabilidade nos preços, com negócios entre R$ 1550-1650/ton FOB. No Rio Grande do Sul, preços na média de R$1480/ton FOB.
– Preço de importação do trigo argentino 12,0% de proteína safra atual (abr/21) cotado em queda de 1,94% na semana, agora a R$ 1.661/ton posto em Santos-SP (trigo + frete marítimo + descarga + seguro) considerando o dólar médio da semana em R$ 5,58. Na referência do trigo americano (hard) embarque em abr/21 em alta, cotado na média de R$ 2.019/ton (+3,52% na semana).
– A Agência Marítima NABSA divulgou o Line Up de exportação de trigo dos próximos dias. Entre os dias 12 a 25 de abril, estão programados o envio de 431,67 mil toneladas de trigo para o exterior com aumento de 15,57% em comparação com o volume programado na semana anterior. Destas 200 mil tons tem destino ao Brasil com incremento de 14% em uma semana. O volume destinado vai para Bunge (110 mil tons), COFCO e OMHSA (30,0 mil tons).
Fonte: AF News