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Trigo Argentino: Por que o governo do país vizinho está aumentando a pressão sobre o controle de preços e exportações de grãos?



O governo da Argentina está adotando desde a semana passada, novas medidas sobre o aumento do controle de preços e exportações dos seus produtos agropecuários, após o país vizinho atingir a maior inflação em 18 meses

Nesta segunda-feira (19), o governo da Argentina implementou novas medidas de controle de preços e de exportação de grãos, lácteos e carnes, depois de ver a inflação no país chegar a 4,8% em março – o que surpreendeu analistas e o governo. Entre as novas regras que foram publicadas no Boletim Oficial, uma delas aumenta as exigências para a exportação de carne, grãos e produtos lácteos.

Na prática, as empresas exportadoras destes setores terão que informar ao governo detalhes de contas bancárias com as quais operam, movimentos bancários dos últimos seis meses, plano de trabalho projetado para o próximo ano, com detalhes de mercadoria a ser exportada, volumes, fornecedores e destinos, além de uma enorme quantidade de documentos requisitados para que uma empresa consiga se inscrever no Ruca (Regulamento para a Inscrição no Registro Único de Operadores da Cadeia Agroindustrial).

Segundo o Ministério da Agricultura, as novas exigências devem tornar o mercado mais transparente ao limitar “distorções na atividade comercial” que dificultam o “pleno exercício dos poderes de fiscalização tributária e cambial pelas autoridades competentes”.

Para o setor afetado, o novo regulamento aumenta a burocracia e reduz a competitividade dos produtos argentinos no mercado externo, além de ser mais um obstáculo para a entrada de pequenas e médias empresas no mercado de exportação. “Os requisitos se multiplicam e exigem um ano antes de informar quais operações serão realizadas. Este é mais um exemplo do controle excessivo que o setor sofre: além de pagar cada vez mais impostos, tornando sua atividade mais ineficiente e menos sustentável, também gera mais burocracia”, disse ao Infobae o contador Juan Manuel Barrero, Socio de Barrero & Asociados, ao comentar a nova resolução.

Para alguns especialistas, a medida está sendo vista como uma tentativa do governo de tentar controlar o preço e garantir o abastecimento interno destes produtos, especialmente a carne, que tem aumentado significativamente desde o fim do ano passado, puxando para cima a inflação de alimentos. No acumulado do primeiro trimestre, a inflação geral na Argentina foi de 13%. Se seguir nessa toada, ficará difícil para o governo manter a meta de 29% de inflação para 2021.

A expectativa do governo é que, com mais empecilhos à exportação da carne, grãos e lácteos, haja mais oferta ao mercado interno e, consequentemente, uma queda, ou estabilização, de preços. Contudo este efeito não se sustenta por muito tempo e, com a redução natural do estoque de gado no próximo ciclo de produção por causa dos valores baixos, os preços tendem a subir novamente. “A curto prazo, aumenta a oferta de carne e reduz o preço. Mas a médio prazo, teremos uma oferta estruturalmente menor que aumentará os preços. E quando os produtores começarem a recompor seus estoques de gado, os preços devem disparar por um tempo”, explica o professor da Faculdade de Ciências Empresariais da Universidad Austral, Federico de Cristo.

“Não é uma solução [para o aumento de preço], e sim um paliativo. Uma medida para mostrar efeito a curto prazo, mas que vai gerar problemas mais adiante”, conclui, lembrando que esse tipo de política também foi adotada nos governos dos Kirchner.

Como fica o mercado do trigo?

Assim como já relatado pelos especialistas que vão contra a medida adotada pelo governo, as mudanças para o mercado consumidor da Argentina só serão “boas” visualizadas no curto prazo, porque com a limitação das exportações de trigo, o mercado doméstico fica mais aquecido resultando na desvalorização dos preços.

Por outro lado, a queda nas cotações do trigo, desestimulam os produtores de plantas, o que, portanto, impacta em uma menor oferta do cereal no longo prazo, fazendo com que os preços subam novamente.

O impacto se estende ainda para o Brasil, maior importador de trigo do país vizinho, uma vez que uma menor importação de trigo da Argentina, que historicamente costuma ter o custo logístico e de aquisição mais baixo que de outros países exportadores, acarreta na necessidade do Brasil ter que migrar para a compra de trigo de fornecedores mais distantes e mais caros.

Se a redução do plantio das áreas de trigo da Argentina forem significativas, isso mexe também com a demanda mundial do grão, o que desencadeia aumentos no trigo em âmbito mundial.

Sendo assim, é inevitável pensar que esse novo processo adotado pelo governo da Argentina, não traga algum impacto para  a cadeia produtiva do trigo.

Fonte: AF News

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