Durante o mês de março a cotação do trigo operou mais estável devido a baixa movimentação do mercado, mas ainda assim, os preços registraram aumentos que ficaram entre 2,8% a 8,4%
Trigo Brasil
O mercado brasileiro de trigo apresentou pouca movimentação nos negócios no mês de março, influenciado principalmente pela redução na demanda pelas farinhas de trigo, o que levou os moinhos a reduzirem a sua capacidade de moagem e atuarem com maior cautela. Sendo com assim, com os estoques bem abastecidos, as aquisições que ocorreram foram pontuais.
Isso levou o último mês a registrar um cenário de liquidez reduzida, uma vez que, de um lado os produtores estiveram focados na colheita das culturas de verão, restritos à oferta do grão, assim como os compradores estiveram menos interessados nas compras.
No entanto, o que se observou foi que a valorização do dólar e a oferta reduzida de matéria-prima no mercado doméstico, sustentaram os indicadores que tiveram aumentos mais modestos durante os últimos trinta dias, mas mesmo assim finalizaram com aumentos entre 2,8% a 8,4% na variação mensal das principais regiões acompanhadas pela AF News.
Com o panorama atual do mercado, em que o Brasil ainda demanda de muito trigo importado por não ser autossuficiente na produção do grão e os preços favoráveis do trigo brasileiro ao produtor, os agricultores tem estudado sobre um aumento de área expressivo no cultivo do cereal para a safra de 2021.
Além disso, com os atrasos no plantio do milho safrinha e o risco da quebra da produção diante da semeadura fora da janela ideal de cultivo, alguns produtores resolveram migrar para a cultura do trigo de modo a se sentirem mais seguros nas suas lavouras.
Sendo assim, alguns analistas já imaginam que a safra brasileira de trigo deve ser recorde em 2021, podendo alcançar 7,625 milhões de toneladas no país. No entanto, esse potencial produtivo, deve levar em conta a não ocorrência de problemas climáticos. Em 2020, o Brasil produziu 6,245 milhões de toneladas. A variação anual projetada é de 22%.
Além de um clima favorável, esse número depende da consolidação da intenção de plantio neste ano, atualmente estimada em 2,576 milhões de hectares – alta de 12% em relação aos 2,297 milhões do ano passado.
Os dados da Conab em seu 6º levantamento sobre as estimativas da produção de grãos no Brasil divulgadas na metade de março, são um pouco menores. Segundo a Companhia, a safra de trigo para 2021 deve alcançar uma área de 2,390 milhões de hectares, com produtividade média de 2,693 ton/hec, o que atingiria uma produção de 6,437 milhões de toneladas de trigo, com incremento de 3,25% em comparação com a safra de 2020.
Nenhum número oficial ainda foi lançado pelos principais estados produtores, Paraná e Rio Grande do Sul, até o presente momento, porém, a partir de abril a safra de trigo nacional já deve começar a ser semeada no Paraná.
O Deral se limitou apenas, por enquanto, a emitir uma nota técnica, sugerindo aos produtores que, na impossibilidade do cultivo do milho, o trigo entraria como uma boa alternativa.
“A triticultura se encaixa perfeitamente no período de abril a outubro no Estado, dependendo da região de cultivo, em sucessão à soja. Outro fator que conta a favor é a rotação de culturas. Os benefícios da palhada do trigo no solo vão desde a proteção contra a erosão, a manutenção da umidade, a redução da temperatura do solo, favorecendo os processos biológicos como o crescimento de raízes e a fixação do N, e a redução da população de plantas daninhas”.
Ainda durante o mês de março, o câmbio registrou o seu maior valor nominal histórico, atingindo R$ 5,80 no dia 09/03. Na variação mensal a moeda norte-americana fechou com alta de 0,53%, saindo de R$ 5,61 no dia 26/02 para R$ 5,63 em 31/03.
Vale ressaltar que com o câmbio elevado, o preço do trigo importado aumenta, o que inviabiliza as aquisições externas. Além disso, os insumos utilizados pelo triticultor no campo também é dolarizado, o que, portanto, irá influenciar no aumento do custo de produção para a próxima safra.
Observando a tabela de paridade mensal, é possível notar que, apesar do trigo doméstico estar a um custo maior em relação a outros anos, mas os valores registrados estão sutilmente superiores ao nosso principal fornecedor, a Argentina.
Já no comparativo com outros países, como Estados Unidos, Rússia e França, o custo do trigo importado tem um aumento expressivo. Obviamente que com a isenção da TEC, os custos de importação são menores, porém, anualmente apenas 750.000 toneladas são disponibilizadas com a isenção da Tarifa Externa Comum.
Trigo Argentina
A queda do trigo no mercado externo tem pressionado fortemente os preços do cereal argentino, que também enfrenta alguns entraves com o atual governo do país vizinho.
Como o intuito de oferecer maior segurança alimentar e acesso aos alimentos na Argentina, o atual presidente, juntamente com seus colaboradores do governo, tem adotado políticas buscando um teto máximo nos preços do trigo, o que tem impactado fortemente nos indicadores e nas vendas do grão no país.
Embora a Argentina tenha produzido uma safra menor de trigo em 2020 e o saldo exportável do grão já esteja praticamente esgotado, ainda há um bom volume estocado no mercado doméstico e este não está sendo adquirido pela indústria como nos anos anteriores.
Com as medidas restritivas adotadas por conta da Covid-19, o setor moageiro de trigo sentiu uma queda drástica na compra de trigo no mercado local, assim como, certo distanciamento por parte dos produtores, que também não estão aprovando de forma integral as novas políticas agrícolas e de exportação do país.
Segundo um levantamento da Fundação Agropecuária para o Desenvolvimento da Argentina ( FADA ) em seu índice trimestral de cada $ 100 de renda que um produtor agrícola gera por hectare, $ 62,60 é o que ele paga de impostos. O índice de março é 3,4% superior ao de dezembro.
“Isso se explica por vários fatores: aumentos nos impostos fixos municipais e provinciais; aumento dos custos em pesos e em dólares de mão de obra e frete; aumentos de preços de fertilizantes; queda no preço disponível do trigo; e redução dos rendimentos estimados devido ao efeito da seca”, explica David Miazzo, economista-chefe da FADA.
Na reta final de março (29), outro estudo realizado pela Fundação Pensar, da Argentina, informou que o percentual de valores repassados aos produtores no ciclo atual das commodities está na média de 38% para a soja, 52% no milho e 51% para o trigo.
Segundo o estudo, do qual participaram ex-funcionários da pasta Agropecuária da gestão de Mauricio Macri, o preço que os produtores agrícolas estão recebendo pelo trigo, milho e soja está “cada vez mais distantes dos concorrentes internacionais”.
No relatório, os pesquisadores qualificaram a situação como prejudicial à produção agrícola do país, pois “implicaria em menos investimento em tecnologia e insumos, orientando os produtores para safras mais baratas e assim, ter uma menor exposição a riscos e, em última instância, estagnação ou queda na produção”.
Com tantos impasses vivenciados e com a queda nos preços do trigo, o mercado de trigo da Argentina não descarta a possibilidade de uma redução nas áreas de cultivo das próximas safras, já que os estímulos não estão sendo suficientes para o produtor, pelo contrário, desestimulam o cultivo do cereal.
As cotações do trigo na Argentina finalizaram o mês de março com queda de 1,12% no mercado spot, fechando a US$ 265/ton.
Nos contratos futuros da Bolsa de Rosário, as perdas ficaram entre 2,96% a 5,34% na variação mensal dos vencimentos entre abr/21 a out/20. Em julho/21 o preço finalizou a US$ 260/ton com queda de US$ 10 por tonelada em relação há trinta dias.
Trigo Mercado Externo
Os preços do trigo encerraram o mês de março com uma desvalorização de 3,82% a 6,40% nas entregas futuras do trigo soft para mai/21 a mar/22. Enquanto que o trigo hard teve depreciação de 7,04% a 9,15% para o mês período e vencimentos.
Após atingir um pico de aumentos sustentados pelas condições climáticas de frio intenso durante o começo do ano, com a melhora das previsões nos EUA a cotação do trigo apresentou um forte recuo. À medida que o USDA foi divulgando semanalmente o progresso de cultivo e qualificação dos grãos, os indicadores sinalizaram perdas.
Com o dólar forte no mercado externo, e os traders realizando um grande volume de vendas técnicas para realização de lucros, os preços passaram por uma correção na Bolsa de Chicago e sendo assim, os índices foram caindo por diversos dias consecutivos como se observa no gráfico de preços abaixo.
Nem mesmo a queda nos estoques finais de trigo em 1,0% no relatório de oferta e demanda mundial em sua versão de março do USDA, foi capaz de segurar os preços por muito tempo. Segundo o Departamento, a produção de trigo mundial safra 2020/21 deve ficar em 776,78 milhões de toneladas (+0,48%), com uma demanda mundial de 775,89 milhões de tons (+0,85%), o que resultaria em um estoque final de 301,19 milhões de tons.
Já na reta final do mês, foi divulgado no último dia de março (31) o relatório Prospective Plantings do USDA, informando que o plantio de trigo nos Estados Unidos em 2021 está estimado em 18,7 milhões de hectares, representando aumento de 5% na comparação com 2020. Se confirmado, a área seria superior aos 18 milhões de hectares esperados pelo mercado, e ficaria no quarto menor nível plantado desde 1919.
O plantio de inverno de 2021 ficou estimado em 13,4 milhões de hectares, alta de 9% em comparação com o ano anterior e de 3% ante a estimativa passada. Deste total, 9,39 milhões de hectares seriam de trigo hard vermelho de inverno, 2,6 milhões de trigo soft vermelho de inverno e 1,41 milhões representariam as áreas de trigo branco de inverno.
Para o trigo primavera em 2021 ficaram estimados 4,73 milhões de hectares com queda de 4% ante 2020. Deste total, cerca de 4,41 milhões de hectares seriam de trigo hard vermelho de primavera. O plantio de trigo durum em 2021 ficou projetado em 0,61 milhão de hectares, redução de 9% frente ao ano passado.
Os estoques norte-americanos de trigo em 1º de março de 2021 totalizaram 356,5 milhões de toneladas com redução de 7% em comparação a mesma época de 2020. O mercado esperava o número em 345,6 milhões de toneladas. Os estoques guardados por produtores ficaram em 77,29 milhões de tons, queda de 16% em relação a março de 2020. Estoques fora das fazendas (off-farm) totalizaram uma estimativa de 353,8 milhões de tons, 4% abaixo do apontado em 1º de março de 2020.
Fonte: AF News