Durante o ano, o mercado do trigo argentino foi beneficiado pelo bom ritmo de vendas em função da abertura de novos países compradores na última safra, passando a depender menos das importações do Brasil, refletindo na valorização das cotações em função da oferta limitada de trigo. Isso motivou os produtores aumentarem a área cultivada de trigo na safra 2020/21, mas os fatores climáticos de seca e algumas geadas que atuaram nas lavouras durante o cultivo, levaram a produção a uma redução expressiva, estimada atualmente em 16,8 milhões de toneladas, uma das piores safras dos últimos anos
Logo no início de 2020, a Argentina confirmou que a safra de trigo 2019/20 havia resultado em um volume de 18,8 milhões de toneladas. Um número razoável, mas que ainda assim contabilizou uma perda de 12,5% ante os 21,5 milhões de tons estimados previamente.
Deste modo, o total disponível de trigo exportável foi ajustado e o volume que era inicialmente para ficar por volta dos 14,0 milhões de toneladas, ficou em apenas 12,2 milhões de tons.
Com a intenção da Argentina em depender menos das importações brasileiras que ainda assim, continua sendo o principal importador do país vizinho, os argentinos abriram novos mercados buscando uma forma mais efetiva de escoar a produção. De fato, a estratégia funcionou muito bem, tanto que já no mês de março, quase 85% da safra 2019/20 já havia sido comercializada e o que restou para negócio, foi destinado para o mercado local.
Esse cenário fez com que o Brasil tivesse a necessidade de importar trigo de outros países mais distantes a custo mais caro, foi justamente por este motivo, que a Argentina reduziu em 9% a contribuição em relação as importações brasileiras, passando de 81% do mercado em 2019, para 72% em 2020 entre os meses de janeiro a novembro.
Algumas mudanças nos impostos de exportação das commodities agrícolas da Argentina foram tomadas pelo Governo, que ajustou de 6% para 12% a taxa de exportação do cereal. Por outro lado, como forma de compensar o setor, o país vizinho reduziu os tributos de exportação para a farinha de trigo que passou de 9% para 2%.
Já no segundo semestre, os produtores de trigo passaram a ser concentrar mais na produção do cereal safra 2020/21, que teve o seu plantio finalizado no final de julho, com diversas incertezas.
Em virtude dos preços valorizados do trigo, os produtores decidiram por aumentar a área de plantio, que era estimada inicialmente em 6,8 milhões de hectares, podendo resultar em uma safra recorde de 22,0 milhões de toneladas. Porém, já no período de plantio, o país vizinho começou a presenciar um longo período de estiagem, que se manteve durante todo o ciclo da cultura, resultando na queda da área plantada para 6,5 milhões de hectares.
Ao longo do desenvolvimento do trigo, em cada levantamento reportado pela Bolsa de Cereales a produção de trigo argentino ia decaindo. Já em setembro, as estimativas ficaram por volta dos 17,5 milhões de toneladas, bem inferiores aos 18,8 milhões colhidos na safra anterior.
Com a ocorrência de geadas tardias e a intensificação da seca, provocada pelo La Niña, as condições hídricas do solo foram ficando cada vez mais críticas, até que durante o mês de novembro, o ajuste estimado de produção ficou em 16,8 milhões de tons, volume que ainda está sendo esperado até o momento.
As regiões mais afetadas pela seca foram a região Central e Norte, que chegam a uma perda de produtividade de mais de 40% e 50%. Essas duas regiões concentram 46% das áreas semeadas de trigo no país.
Até o dia 09 de dezembro, 53,5% das lavouras de trigo já haviam sido colhidas na argentina e embora a produtividade tenha sido impactada pela seca, o fator contribuiu para uma boa qualidade do trigo, mas ainda que a remuneração pelo trigo de boa qualidade fique um pouco superior, esse quadro não irá amenizar as fortes perdas sofridas.
Essa queda drástica na produção de trigo argentino, foi uma das piores das últimas safras e como resultado, haverá uma queda significativa no volume exportável de trigo para os próximos meses, estando projetado atualmente em apenas 10,0 milhões de toneladas, com redução de 18% em relação aos 12,2 milhões de tons disponíveis no ano anterior.
Deste modo, o Brasil deve refletir em novas estratégias sobre a reposição dos seus acervos no período de entressafra, já que o país vizinho pode não suprir toda a necessidade que o país tem de comprar trigo importado.


Cotação do Trigo da Argentina
Em uma retrospectiva das cotações, o preço do mercado físico do trigo argentino começou 3,2% abaixo da média de janeiro do ano anterior, sendo cotado a US$ 227,10/ton. A queda naquele mês, decorreu da oferta aquecida do cereal, já que a safra ainda estava sendo finalizada.
No entanto, esse quadro de depreciação nos índices, durou somente até fevereiro, já que em março, a demanda começou a aumentar e os preços subiram 6,2% na média mensal comparada a mar/19, ficando em US$ 243,82/ton. Os impactos da pandemia do Coronavírus e a alta do dólar ante as moedas emergentes, também refletiram em uma valorização do cereal do país vizinho.
Entre os meses de abril a julho/20, as cotações foram oscilando entre ganhos e perdas no comparativo anual, mas a partir do mês de agosto, os índices só foram crescendo, o principal impacto na valorização das cotações, veio da valorização do trigo no mercado externo e as consecutivas perdas de produção do cereal argentino em cada projeção que era divulgada.
Deste modo, o preço do trigo da Argentina chegou o mês de dez/20 com uma média de US$ 264/ton entre os dias 01 a 11 de dezembro, resultando em um aumento de 31,2% diante do mesmo mês de 2019.

